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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Histórias do Mané Garrincha

Histórias do Mané

  Evelin Campos, ComCopa
Se os craques do futebol dão show em campo, é com serrote e martelo que Luciano dos Santos de Aquino realiza a sua arte. Na edição desta terça-feira da série, um dos operários mais antigos do Mané Garrincha conta como a carpintaria o levou a trabalhar em um dos palcos da Copa do Mundo
Fotos: Andre Borges/ComCopa
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“Quando cheguei, era tudo terra vermelha. Estavam terminando de cercar com os tapumes e preparando para a implosão. O outro gramado ainda estava lá”. Com os olhos distantes, como os de quem busca recordar detalhes, Luciano dos Santos de Aquino, 32 anos, revela as primeiras impressões daquele que foi, de longe, seu maior desafio profissional.

À medida que as lembranças surgem, um sorriso se abre. Na lista dos funcionários mais antigos da obra do novo Estádio Mané Garrincha, o goiano guarda na memória cada momento vivido na construção da arena. “Me lembro de tudo como se fosse hoje. Entrei em 13 de setembro de 2010 e saí no dia 12 de agosto de 2013”, calcula, com precisão.

Luciano foi contratado como ajudante de carpinteiro, e em apenas cinco meses, promovido a carpinteiro. Na profissão desde 2004, ele conta que nunca tinha participado de um projeto tão grande. Seu auge, até então, havia sido a construção de prédios de, no máximo, cinco andares. “Cada etapa era uma surpresa. E quando terminava, a gente mesmo ficava impressionado”, diz.

20131029AB  5857 pers historias do mane 1Ser operário do estádio foi, também, uma oportunidade de crescimento: antes de ser contratado, Luciano estava desempregado. “Tinha muita vontade de trabalhar nessa grande obra, pela dimensão do projeto. Mas, na época, eu não imaginava que seria algo tão grande e visto por pessoas no Brasil e no mundo”, afirma, orgulhoso.

Luta – O canto do galo era o sinal de que mais um dia se iniciava. Cuidar dos animais e preparar a terra para o plantio eram algumas das tarefas de Luciano na fazenda do pai, em Campos Velhos (GO), onde nasceu e morou com a família boa parte de sua vida. Nas horas vagas, ele jogava bola em campo de terra, hobby que ainda o acompanha. Em 2000, o quarto filho de sete irmãos trocou o ambiente rural pelo concreto de Brasília.

Aqui, ia de Sobradinho II, onde mora, para trabalhar como jardineiro em casas no Lago Sul. Anos depois, Luciano aprendeu os ofícios de pedreiro e carpinteiro, e, já no estádio, adquiriu conhecimentos básicos em áreas como armação e ferragens. “Para mim foi um prazer trabalhar com tanta gente diferente. A equipe sempre foi muito unida, todo mundo se ajudava”, garante.

Entre os maiores desafios, o operário destaca os pilares e a cobertura, e seu lugar preferido na arena são as arquibancadas. Hoje, Luciano faz questão de dizer que participou da obra. “Há um tempo fui passear na minha terra e ouvi todo mundo comentando sobre o estádio, pois estava passando na TV. Aí eu contei que trabalhei lá e ficaram me fazendo perguntas”, relembra, entre risos.

20131029AB  5924 pers historias do mane 6 1Expectativas – “São coisas que não vou esquecer jamais”, diz Luciano, ao falar das amizades e da experiência de conhecer ídolos do futebol, como Ronaldo, Bebeto e Romário. De olho na nova geração de craques do Brasil, o goiano aposta em vitória verde e amarela em 2014. “Fico feliz por ter uma Copa do Mundo em meu país. É uma chance única, pois uma próxima talvez só nossos filhos ou netos vejam”, avalia o botafoguense.

Mas, enquanto o Mundial não chega, Luciano se prepara para novos desafios no mercado de trabalho. Carteiras de habilitação de moto e carro já estão sendo providenciadas e a próxima meta é aprender a dirigir veículos pesados. Com formação em cursos de informática e vigilante, ele não descarta opções nessas áreas. Tudo sem deixar de lado, é claro, a construção civil.

“Não tenho medo de serviço”, afirma o operário, que namora há três anos e já imagina sua vida ao lado da recepcionista Priscila, 26 anos, com quem pretende ter dois filhos. Até lá, ele espera já ter conquistado a casa própria, um de seus maiores sonhos. “Quero comprar um terreno e construir o meu canto, do meu jeito. Meu desejo é ver minha casinha tomar forma, assim como tive a alegria de ver acontecer com o Mané Garrincha”, conclui.

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