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segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Um mercado de R$ 14 bilhões



Tanto na parte de serviços quanto em produtos, na produção ou no varejo, 
o setor de limpeza e higiene apresenta espaço para crescimento 
expressivo – para quem souber estruturar-se primeiro.

                                
                        Daniel Wehmuth, gestor comercial da Quimisa. Unidade de higiene e limpeza cresce 30% ao ano.

O consecutivo avanço das indústrias de limpeza em todo o Brasil destaca uma nova faixa de mercado. No passado vinculado à mera prestação de serviço desqualificado, o setor ganha importância no país. Em 2011, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla), o segmento movimentou R$ 14,4 bilhões, empregando mais de 21 mil pessoas. O resultado é um avanço de 6,7% sobre 2010 (R$ 13,5 bi). Esse crescimento se traduz em oportunidades de negócio, consolidando companhias que atuam no ramo como essenciais para a conservação de residências e empresas. Há espaço para o progresso de todos: fabricantes de produtos químicos, prestadores de serviços e até mesmo franquias.

Uma das que decidiu investir no setor foi a gigante de produtos químicos Quimisa, sediada em Brusque. No mercado desde 1959, a empresa atua em quatro frentes, com a unidade de Higiene e Limpeza registrando os crescimentos recentes mais significativos. Há cinco anos, tinha números pouco expressivos no grupo, e hoje detém uma fatia de 10% no faturamento. “Enquanto algumas áreas têm dificuldades para expandir, essa avança 30% ao ano”, informa o gestor comercial Daniel Wehmuth. Há ainda as divisões Têxtil, Revenda e Tratamento de Águas.

Tal crescimento deve-se não apenas ao fato de a Quimisa ter optado por ampliar sua capacidade produtiva, mas também pelo investimento na qualificação profissional. Os produtos são entregues com o devido treinamento ao cliente, otimizando os resultados dos parceiros. “Em uma rede de supermercados de nove lojas da região, fomos responsáveis por fornecimento e treinamento, resultando em uma redução de seus custos superior a 40%”, destaca Daniel.

Nessa divisão da empresa, a maior participação é do segmento de higienização institucional, com destaque para as áreas hospitalar, hoteleira e de frigoríficos. Clientes desse tipo de atividade demandam produtos com princípios ativos específicos, garantindo baixo nível de toxicidade.

Para atender mais rapidamente as regiões Sul e Sudeste, maiores mercados consumidores da Quimisa, há três unidades em operação, além do parque fabril em Brusque. As outras ficam em Nova Esperança (PR), que iniciou as atividades em julho de 2011, Jandira (SP) e Sapucaia do Sul (RS). Essas filiais atuam com distribuição e fracionamento, reforçando a presença da empresa e acelerando a logística de entregas. “Possuímos uma transportadora coligada em um raio de 200 quilômetros de onde temos unidades. O cliente pediu pela manhã, recebe a mercadoria à tarde”, garante. Nesse processo, a companhia torna-se o estoque dos parceiros, pela agilidade com que os produtos podem ser disponibilizados em seus pátios. Vale ressaltar a atuação da empresa também em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde há crescimento acentuado, e no Nordeste, para onde as mercadorias são enviadas através de cabotagem, partindo do porto de Itajaí.

               
                       Peça publicitária da Jan-PRO. Em Santa Catarina, foco inicial será em residências. (Foto: Divulgação Jan-PRO)

Se há avanços registrados em outros estados, a Quimisa já preparou seu complexo fabril para o esperado crescimento da divisão de Higiene e Limpeza. Hoje operando em turno único, com produção anual de 2,4 mil toneladas, 20% do total da companhia, a empresa já possui capacidade instalada para triplicar seu volume. As perspectivas positivas devem-se aos avanços esperados, ainda que a expectativa aponte para um aumento também na concorrência, tanto em quantidade quanto em qualidade. Mesmo assim, a situação atual permite que as projeções apontem para um crescimento global de 6% sobre o faturamento de 2011, que foi superior a R$ 170 milhões. Para resultados positivos, no entanto, é necessário ultrapassar as barreiras do setor. Além da burocracia brasileira, alvo de críticas da classe empresarial, que atrasa a chegada de lançamentos ao mercado em pelo menos 90 dias, o setor enfrenta várias dificuldades. A principal delas é a mão de obra. A falta de profissionais especializados sobrecarrega os demais, gerando custos extras e freando o crescimento. É esse também o ponto-chave para Gilmar José Borscheid, diretor da Girando Sol, sediada em Arroio do Meio (RS) e que atua, desde 1991, mais focada em clientes pessoa física. “A indústria em geral enfrenta esse problema, faltando colaboradores tanto para tarefas simples como complexas”, explica.

Outro problema apontado por Gilmar é a logística. Não pelo envio das mercadorias, que são todas feitas ou finalizadas em suas instalações, estando o fornecedor mais distante a 80 quilômetros. A maior dificuldade está na entrega, especialmente por conta do alto fluxo de veículos. Há ainda o fantasma da tributação. “Cada Estado tem seu sistema, algumas vezes as leis não são tão claras e as alíquotas variam bastante. Em Santa Catarina, as taxas são diferentes para grandes e pequenos varejos, mas é preciso saber buscar quem se enquadra em cada situação para recolher os impostos”, reclama o diretor da Girando Sol.

Com a concorrência de multinacionais do setor, a empresa gaúcha aposta na proximidade geográfica com o público para conquistar seu mercado. Deste modo, opta por se aproximar do consumidor trabalhando diretamente com atacadistas para alavancar as vendas. Sua meta é clara: ser referência em higiene e limpeza e a marca mais lembrada do Sul do país até 2015, com foco nas classes B e C, nas quais seu mercado está mais inserido. Para chegar aos três Estados, conta com 22 representantes que atuam diretamente junto aos atacadistas.

Com três unidades, duas em Arroio do Meio e uma em Lajeado, também no Rio Grande do Sul, a Girando Sol possui 350 colaboradores e cerca de 130 itens em seu portfólio, produzindo mais de 80 milhões de litros de produtos por ano. A capacidade deve dobrar com as obras de um novo espaço, que começam após a conclusão da atual fase de terraplenagem em um terreno com área de 100 mil metros quadrados. De lá, sairão produtos também para o mercado externo, destinados a países como Angola, Bolívia, Cuba e Uruguai, que hoje representam 1,5% do faturamento.

O carro-chefe da Girando Sol é o amaciante de roupas, seu primeiro item. “A ideia partiu da minha mãe, que fazia um produto caseiro semelhante. Vi naquilo uma oportunidade de negócio, e parti em busca de profissionais estratégicos, que me auxiliaram a conhecer melhor o ramo. Em pouco tempo, larguei meu emprego na indústria calçadista para me dedicar integralmente a esse projeto”, lembra Gilmar. Também possuem resultados de vendas expressivos químicos como detergente, desinfetante, alvejante, lava-roupas líquido e sabão em barra.

Márcia Gonçalves Maes, diretora geral da franquia joinvilense da Jan-PRO. Unidade é uma das 12 mil que a marca tem no mundo.

Outro nicho em voga no setor de higiene e limpeza é o de serviços, que engloba os prestados pela franquia Jan-PRO, multinacional americana. Com lançamento no Brasil em 2011, a rede abriu seu primeiro ponto em outubro passado, na cidade de São Paulo. Hoje são 25 contratos fechados, dois deles nas catarinenses Chapecó e Joinville. “Temos outros em fase de implantação ou treinamento final”, destaca o master franqueador da empresa no país, o belga Bernard Jeger. A Jan-PRO possui mais de 12 mil franquias em todo o mundo.

Presidente por três mandatos da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Bernard comanda as operações da norte-americana em solo nacional. Segundo ele, o conceito de limpeza começa a mudar por aqui, seguindo a tendência dos Estados Unidos de tratar de maneira mais profissionalizada o asseio e a conservação dos ambientes. “Trabalhamos com conceito de desinfecção e limpeza focada na qualidade de vida do ser humano”, frisa.

Segundo a Green Building Association, entidade que avalia e certifica os chamados prédios “verdes” com o selo Green, espaços com ar mais limpo alteram o rendimento do ser humano. Os estudos apontam que funcionários de um escritório aumentam sua produtividade em até 15% em locais com melhor qualidade do ar. Em salas de aula, as notas dos alunos chegam a índices 20% superiores.

Por isso, o foco da Jan-PRO no Brasil hoje está ligado a condomínios empresariais, que representam 80% da fatia de mercado da empresa. No entanto, ela já direciona seu foco a outros ramos, como o médico-hospitalar. Para isso, homologa no país o EnviroShield, um equipamento com alta pulverização por energia eletrostática, que promete eliminar 99% das bactérias de um ambiente sem oferecer riscos ao ser humano durante sua aplicação.

Um dos diferenciais da americana, no entanto, está em substituir o excesso de funcionários por equipamentos especializados. “Com um colaborador e uma máquina correta, conseguimos reduzir os custos de limpeza em até 40%”, explica Bernard. “Temos ainda panos de microfibra e produtos químicos à base de peróxido, que vira água e oxigênio e possui alta diluição, rendendo mais e, assim, diminuindo o gasto final”.

Na franquia de Joinville, a atuação começará pela área residencial. Posteriormente, passará a operar também em pós-obras e na indústria, chegando ao setor clínico-hospitalar. “Esse avanço será gradativo”, adianta a diretora geral da unidade, Márcia Gonçalves Maes.

A afiliada do Norte de Santa Catarina aposta em crescimento significativo para breve, quando o serviço começará a ser difundido pela região. A mão de obra é o calcanhar de aquiles, como protestam também os diretores de Quimisa e Girando Sol, mas o avanço é esperado pelo aumento na demanda por limpeza. “O ramo costuma vencer crises. Afinal, tudo precisa ser limpo e esse processo é exigido constantemente”, destaca Márcia, reforçando as palavras de outros gestores que atuam no segmento.

A Jan-PRO conta, no Brasil, com os mesmos parceiros que fornecem equipamentos e produtos químicos para suas franquias em outros países. Isso é possível por fabricantes de máquinas como a dinamarquesa Nilfisk Advance e a americana Rubbermaid terem comprado as nacionais Plataforma e Tomki, respectivamente. Entre os itens líquidos para limpeza e conservação, a parceira é a estadunidense Spartan, que tem uma unidade no Brasil desde 1974. Desse modo, é possível seguir procedimentos semelhantes aos americanos e manter o baixo índice de cancelamento de contratos – menos de 1%, frente à estimativa média nacional de 5%.

Se antes a ideia que se tinha sobre o setor de higiene e limpeza era fundamentada apenas na prestação de serviços por colaboradores com baixa capacitação munidos de balde e esfregão, hoje a concepção acerca deste ramo mudou drasticamente. No entanto, ainda há barreiras a serem ultrapassadas, como a percepção de produtividade do setor. A mentalidade atual diz respeito ao rendimento em relação ao trabalho de um funcionário por hora, quando no exterior, onde o mercado está mais maduro, é dada mais importância aos trabalhos em máquina ou tempo gasto por metro quadrado. A tendência é que esse novo pensamento ganhe força a cada ano, com a difusão da necessidade dos serviços de limpeza e higiene. Quem ignorar essa evolução e relevância, preveem os executivos, poderá ficar para trás.

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