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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Histórias do Mané

Histórias do Mané

  ComCopa
Guerreira na vida e no trabalho. Assim é a operadora de máquinas Eunice da Silva Oliveira, personagem desta terça-feira (10/09) da série Histórias do Mané

Fotos: Andre Borges/ComCopa
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Nada de sexo frágil. Quando assumia a direção de um trator ou de uma empilhadeira, ela era tão forte quanto qualquer um de seus colegas de trabalho. “Sempre peguei no pesado”, orgulha-se Eunice da Silva Oliveira, 38 anos, primeira mulher a operar máquinas pesadas na obra do Estádio Mané Garrincha.
Goiana do município de Alvorada do Norte, Eunice se mudou para Brasília em 1993. Apesar de ter montado uma loja de assistência técnica de eletroeletrônicos junto com um amigo, ela nunca se sentiu realizada na capital. Quando soube da vaga de ajudante na arena, não perdeu tempo. “Fazia limpeza geral, carregava muito carrinho de mão cheio de entulho”, conta.

Apenas oito meses após sua admissão na obra, em março de 2012, Eunice foi promovida. Trocou a vassoura por tratores e empilhadeiras, e o salário, que era de R$ 730, passou para R$ 3,8 mil. “Estavam procurando operários que tivessem habilitação de carro. Fiz um curso e então comecei a trabalhar”, relembra.

Como operadora de máquinas, Eunice chegava a suspender, com uma empilhadeira, 12 paletes (pilhas) de tijolos por dia – o equivalente a meia tonelada. Para a operária, a experiência foi estimulante tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. “Paguei minhas dívidas, troquei meu carro e ainda guardei dinheiro no banco, coisa que nunca tinha conseguido fazer. Tudo graças a essa obra”, comemora

AB  3380-historias do mane 4 cropMulher sim, e daí? – Os desafios na vida de Eunice começaram cedo. Aos 20 anos, ela precisou superar a perda do marido e sustentar sozinha a filha Thaís, na época com 11 meses. “Hoje minha menina tem 18 anos e faz faculdade de História e curso técnico em segurança do trabalho”, revela a operária, moradora de Planaltina de Goiás.

Apesar de sua determinação, Eunice reconhece que ainda existe muito preconceito em relação ao trabalho feminino. No estádio, grande parte dos homens dava apoio, mas alguns relutavam em aceitar que uma mulher operasse uma empilhadeira. “Uns poucos encarregados deixavam claro que preferiam homens. Mas a maioria dava a maior força e até aplaudia quando estávamos em campo”, afirma.

Com persistência e jeitinho, Eunice foi ganhando o respeito e a amizade de todos os companheiros na obra. E tudo sem perder o charme. “Podemos trabalhar em qualquer área. Não tem essa de ser coisa de homem. Sou uma mulher como outra qualquer. Me cuido e não acho que fico menos feminina por trabalhar numa construção”, ressalta.

Da água para o vinho – Um ano e seis meses se passaram desde que Eunice entrou pela primeira vez no Estádio Mané Garrincha. Com amizades para a vida toda e vontade de aprender mais, a goiana fez questão de tirar carteira de habilitação na categoria D ao sair da obra, em junho deste ano. Agora, ela pode dirigir veículos pesados, como ônibus, caminhão, trator e pá mecânica.

O objetivo da operária é continuar no setor da construção civil. Tanto que, recentemente, Eunice fez entrevistas para trabalhar nas obras do BRT em Brasília, e numa mina em Belo Horizonte. “As obras em geral dão preferência aos homens, mas não pretendo desistir, nem que tenha que voltar a ser ajudante. Essa é uma área em que a ralação é grande, mas a recompensa também”, garante.

Confiante, ela também tem expectativa de gravar seu nome em uma nova fase do Mané Garrincha: o projeto do entorno da arena. Independentemente de qual será seu próximo desafio, Eunice tem certeza de uma coisa: jamais vai esquecer o tempo em que trabalhou no Mané Garrincha. “Toda vez que passo por aqui dou uma volta ao redor do estádio, só para olhar. É uma sensação de saudade dos amigos, mas também de orgulho por saber que essa obra foi um trampolim pra mim e pra muita gente”, conclui.

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