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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Newton Lins - Secretário de Assuntos Estratégicos

Uma nova identidade para Brasília

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“É necessário pensar ações permanentes e sustentáveis, que fiquem para as próximas gerações”. Com essa frase o secretário de Assuntos Estratégicos, Newton Lins, recebeu o Portal Brasília na Copa para uma entrevista exclusiva, onde falou como tem trabalhado para atender a determinação do governador Agnelo Queiroz de transformar Brasília num centro de geração de inteligência e um polo de grandes eventos. De acordo com Lins, isso está sendo possível a partir da definição de uma nova identidade para Brasília. E, segundo ele, a Copa do Mundo de 2014 tem um papel importante nisso, já que “ao demonstrarmos que somos capazes de receber o maior evento do futebol mundial, nós estamos dizendo que somos capazes de realizar eventos de qualquer natureza, de qualquer segmento.” O secretário destaca, ainda, dois projetos que estão em desenvolvimento na secretaria: o Quatro Cantos, com a criação de novos eixos econômicos, e o que prevê a criação de fazendas produtoras de energia solar no Distrito Federal.

O que faz a Secretaria de Assuntos Estratégicos?

Estratégia é quando você coloca algo ou alguém numa determinada posição ou circunstância. Foi o que ocorreu em Campos do Jordão, em São Paulo. Tratava-se de um município como os outros cinco mil existentes no Brasil. Mas uma análise de cenário foi feita e eles perceberam que embora a cidade não tivesse qualquer influência de imigrantes suíços, tinha determinadas características que lembravam aquele país. Pequenas montanhas, clima frio, altitude. Por que, então, não colocá-la nessa condição? A partir daí, identificada a estratégia, que deve ser adotada para dar sustentabilidade e competitividade à cidade, foram criadas situações para viabilizar o planejamento e a execução dessa estratégia. Lá só se concede alvará para obras que tenham projeto arquitetônico parecido com os da Suíça. Incentiva-se a instalação de hospedagens, cervejarias artesanais, restaurantes temáticos, teleféricos, lojas de vestuário que vendem roupas de frio... Nós fazemos algo semelhante aqui. Buscamos essa identidade.

E qual é a identidade de Brasília?

Brasília foi uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil. A prova são as altas produções de soja, carne, grãos, o desenvolvimento no interior. Mas não houve uma estratégia para a cidade de Brasília em si. O que aconteceria com ela: seria apenas uma capital administrativa? Apenas um local de trabalho e moradia de servidores públicos? O cenário mudou. Hoje, mais de 50% da contribuição da economia local vem da iniciativa privada. Diante desse cenário novo, precisamos identificar uma estratégia, levando em consideração as características atuais da cidade e para onde ela quer ir, assim como fez Campos do Jordão. O governador Agnelo Queiroz decidiu que Brasília deve ser um centro de geração de inteligência, o que requer a realização de eventos. Por isso, é natural que ele venha trabalhando para trazer para Brasília grandes eventos das mais variadas naturezas, sejam esportivos, culturais e científicos.

5E como o governo vem trabalhando para criar essa identidade de Brasília, para a cidade ser um polo de grandes eventos?

Não é coincidência que, a partir da definição dessa estratégia, o governador queira trazer o Grande Prêmio de Motovelocidade para o DF. Também trouxemos a Fórmula Motonáutica, seminários, congressos.

A Copa do Mundo faz parte dessa estratégia?

Sim. Todos esses eventos atualmente estão simbolizados na realização da Copa do Mundo de 2014. Brasília não está se preparando especificamente para o mundial. A Copa é um mote. Se nós estivermos preparados, estamos aptos a receber qualquer grande evento. Olha a importância do que eu estou falando. Na realidade, ao demonstrarmos que somos capazes de receber o maior evento de futebol mundial, nós estamos dizendo que somos capazes de realizar eventos de qualquer natureza, de qualquer segmento. O grande legado da Copa é essa certificação mundial de aptidão de Brasília para sediar grandes eventos.

E como se encaixa o Estádio Mané Garrincha nessa nova identidade de Brasília como capital de eventos?

Mais do que um lugar para grandes eventos, ele é, digamos, a capa do livro, que é Brasília. E dentro desse livro nós temos conteúdos que demonstram nossa capacidade de receber visitantes: temos uma excelente hotelaria, condições de realizar eventos náuticos e esportivos no coração da cidade e, em todos eles, basicamente, as pessoas podem chegar em menos de cinco minutos ao local dos eventos. O Mané Garrincha é o centro desse novo polo econômico. Tem tudo perto: hotéis, restaurantes, Centro de Convenções, estações do metrô, Rodoviária, monumentos turísticos... Agora é hora de aproveitar essa vitrine para divulgar a nossa cidade. Assim como Campos do Jordão foi colocada na condição de cidade suíça, Brasília será colocada na condição da sala de estar do Brasil, uma grande sala de eventos, quase uma grande empresa de eventos....

E quais os projetos que a secretaria tem para aproveitar esse bom momento?

Nós identificamos que a pequena dimensão territorial do Distrito Federal, em vez de ser um fator limitador, pode ser um facilitador de desenvolvimento. Do centro geográfico do DF, na Ermida Dom Bosco, até qualquer extremidade do território, há algo entre 90 e 110 quilômetros. É uma característica única no país. Nós identificamos que, dentro desse território, existem várias trilhas que nasceram espontaneamente, como as de bicicleteiros, jipeiros, trilhas a cavalo. Também observamos que existem valores culturais e turísticos pouco conhecidos, como cachoeiras, montanhas, grupos que realizam atividades econômicas que precisam ser valorizadas, como pesque-pague, haras, hotéis fazenda.

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Como aproveitar esse potencial?


Nós propusemos ao governador Agnelo Queiroz e ele aprovou o projeto Quatro Cantos do DF. Nós reunimos todos esses valores que fazem parte da nossa história – a Missão Cruls, a determinação de JK em criar a Nova Capital e a visão de Dom Bosco – para criar ciclos, novos eixos, produtivos, a exemplo do que já foi feito em outros lugares do Brasil e do exterior, como a Rota 66, o Caminho de Compostela, a Estrada Real, o Caminho do Ouro. Inspirados nesses exemplos, nós estamos construindo também quatro trilhas, que poderão ser aproveitadas pelas áreas de turismo, cultura e esporte. Numa faixa de 200 metros às margens de cada trilha, nós propusemos a criação de corredores de incentivo fiscal e de um selo de qualidade para os estabelecimentos comerciais.

E quais são as temáticas dessas trilhas?

Temos a Rota Cívica, que passa pelos principais monumentos de Brasília; a Rota Mística, que engloba a Ermida, o Morro da Capelinha e o Vale do Amanhecer, entre outros pontos; a Rota Rural, que passa pela produção agrícola; e a Rota Urbana, que envolve comércio e a gastronomia.

E qual é a consequência prática desse projeto?

Primeiro, vamos estar resgatando a história do Distrito Federal. As pessoas imaginam que Brasília se deu apenas a partir da transferência da capital, o que não é verdade. Brasília tem uma história anterior, e muito consistente. Temos a passagem de duas estradas reais em nosso território, que eram utilizadas para o escoamento do ouro, que era pesado e recebia o carimbo real antes de seguir para a capital Bahia. Uma delas passa pelo Parque Nacional e a outra pela parte superior do território do DF. Temos sítios arqueológicos com mais de 10 mil anos. Nós queremos levar este conhecimento para a sociedade e os turistas, para que tenham a oportunidade de conhecer mais o DF, que não se limita ao concreto de Niemeyer.

Além da valorização da história esse projeto tem um viés econômico?

O que nós estamos criando com as trilhas do Quatro Cantos são novos eixos produtivos, integrados às características de cada uma delas. A nossa ideia é fazer uma coisa bem amarrada. No passado, uma série de iniciativas desagregadas, construídas sem o tratamento adequado, acabaram desvirtuadas. É o caso do Polo de Cinema, do Polo de Modas do Guará, do Projeto Orla. O Quatro Cantos é um projeto estratégico, perpassa todos os órgãos do GDF. A ideia é a criação de eixos permanentes, autossustentáveis, engajados sempre com uma grande atividade econômica vinculada. No caso da trilha de bicicleta, por exemplo, podemos ter atividades econômicas de fabricantes de energéticos, roupas próprias, equipamentos de segurança, comida, tudo relacionado ao mote da trilha. Onde não houver suficiência de atrativos, cabe-nos criar e incentivar novos museus, centros culturais, centros de artesanato.

E quando esse projeto sai do papel?

A primeira coisa que vamos fazer é reconstruir os quatro pilares nas quatro pontas (marcos) do território do DF. Cada um vai receber dois pontos de parada, com lugares de alimentação, venda de artesanato. A ideia é que a pessoa saia de casa – sozinha, com amigos ou com a família – para cumprir um roteiro, e passe o dia. E assim movimente toda uma cadeia produtiva. O legado do Quatro Cantos será a descentralização social e econômica do Distrito Federal. Isso é o aspecto de estratégia mais importante.

É um projeto estruturante?

É uma proposta de Estado, permanente. O Quatro Cantos vai colocar Brasília em uma nova perspectiva, de uma cidade que tem muito mais a oferecer. O conceito está perfeitamente integrado na proposta do governador Agnelo Queiroz de transformar Brasília num local de eventos. Estamos expandindo essa possibilidade de eventos.

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Além do Quatro Cantos, há outro projeto em que a secretaria esteja trabalhando?


Posso citar o projeto de energia alternativa, sobre o qual estamos conversando com o Banco de Brasília (BRB). Nossa ideia é, a exemplo do que fez a Alemanha, mudar a nossa matriz energética, que hoje é de energia elétrica. Aqui no DF, com essa insolação e esse espaço, é possível criar fazendas de geração de energia solar. Estamos em fase de estudos. Já trouxemos empresas da Coreia do Sul e de Portugal para conversar. Com o BRB, queremos também abrir uma linha de crédito para que os condomínios instalem placas de captação de energia solar nos prédios para uso nas áreas comuns e nas bombas de água. Trata-se de uma energia da mesma qualidade da elétrica, e o legado disso é a convivência com a nova tecnologia.

A construção do novo Mané Garrincha segue a mesma lógica?

Acho que sim. Demolimos o estádio antigo e construímos um novo, moderno, arrojado, com alta tecnologia. Tenho recebido muitas comitivas internacionais e visitado outros países e as pessoas sempre elogiam o estádio. Dizem que é o mais bonito do mundo. O estádio é uma solução permanente, de longo prazo, que daqui a 50, 200 anos vai estar aqui, gerando renda, emprego, visibilidade e negócios. Hoje, enxergo que os críticos do estádio têm a mesma visão daqueles que, na década de 70, condenaram a construção do Parque da Cidade, que hoje é o espaço mais democrático do Distrito Federal. É a nossa praia.

Inclusive, há previsão de integração do Estádio Nacional de Brasília com o Parque da Cidade...

Nada mais justo, pois são dois equipamentos públicos absolutamente importantes e sustentáveis da cidade, que trazem competitividade. O estádio era o que faltava. É o presente mais importante que o governador está dando para a cidade nesse projeto de transformar Brasília na capital dos eventos.

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