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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ComCopa

Histórias do Mané

  Evelin Campos, ComCopa
Na edição desta terça-feira (08/10) da série “Histórias do Mané”, o interno Orzílio Ribeiro Marques conta como o trabalho de reciclagem de placas de sinalização para o Estádio Mané Garrincha ajudou a mudar sua vida: “Sinto que fiz parte de uma história importante de Brasília”

Fotos: Andre Borges/ComCopa
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A habilidade de transformar o velho em novo e de extrair, do rústico, a arte. É assim, com madeira, ferramentas de corte, lixa e tinta, que Orzílio Ribeiro Marques desempenha uma das profissões mais antigas do mundo: a marcenaria. E foi nesse ofício que o goiano de 45 anos encontrou o caminho para renovar a si mesmo.

Em 2003, Orzílio foi condenado a 10 anos de reclusão na Ala de Tratamento Psiquiátrico do Presídio Feminino do Gama (Colmeia), reservada a internos do sexo masculino que cumprem medida de segurança. De lá para cá, Orzílio realizou vários trabalhos. Um dos maiores foi a reciclagem de 600 placas de sinalização para o Estádio Mané Garrincha, no início deste ano.
O projeto de ressocialização, que envolveu cerca de 30 homens, representou aprendizado e crescimento para Orzílio. E também ajudou a encurtar a distância entre o marceneiro e a tão sonhada liberdade: para cada três dias trabalhados, um dia a menos na pena. “É muito bom poder me ocupar, pois me sinto útil e enxergo outras possibilidades”, diz.

orzílio 1Além da redução da pena e da capacitação, os internos recebem um salário mínimo pela produção, feita a partir de placas de trânsito antigas e danificadas. O material, que passa por um processo de corte, lixamento, limpeza e pintura ecologicamente correta, foi usado no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha para sinalizar lixeiras de coleta seletiva. “Sinto que fiz parte de uma história importante de Brasília”, comemora.

Contagem regressiva – Nascido em Uruaçu (GO), Orzílio veio para Brasília em 1989. Aqui, se casou com a cearense Maria Valdeci, 45 anos, que trabalha como empregada doméstica para sustentar os dois filhos do casal: Rafael, 19 anos, e Gabriel, 14. Atualmente, eles vivem em Planaltina e contam com os R$ 500 enviados todo mês pelo marceneiro.

Agora, os quatro aguardam a chegada do dia 23 de outubro. E não apenas por ser o dia em que Orzílio completa 46 anos, mas porque, neste ano, a data será comemorada com toda a família reunida. É o fim da pena do marceneiro, e o início de uma nova vida. “Sairei do presídio no dia do meu aniversário. Meus filhos compraram presentes e já disseram que vão preparar uma festa. O coração está batendo forte”, conta o interno.

Hoje, mais do que nunca, Orzílio sabe que valeu a pena dedicar seu trabalho, diariamente, das 8h às 17h, à fabricação de lixeiras, placas de sinalização e indicações de trânsito. “Aqui eu sempre tive confiança, respeito e consideração, tanto dos outros internos quanto dos policiais. Foram essas boas relações e o apoio da família que me ajudaram a mudar”, destaca.

Sonhos para o futuro – Mesas, cadeiras e casas de boneca são alguns dos objetos que tomaram forma na marcenaria improvisada de Orzílio na Colmeia. Futuramente, o goiano pretende abrir sua própria marcenaria e colocar em prática a habilidade conquistada ao longo de 30 anos de sua vida.
Foto: Lula Marques/ComCopa
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Antes, Orzílio quer concluir os estudos, interrompidos na 5ª série (atual 6º ano) do ensino fundamental. “Meu filho Gabriel vai me ajudar. Depois que terminar o ensino médio, vou fazer um curso de desenhista para a área de marcenaria para me especializar, conhecer o mercado, e, aí sim, abrir meu negócio”, ressalta.

O próximo passo será um trabalho de marceneiro na Universidade de Brasília, garantido pelo projeto de reciclagem de placas. “Se o preso tiver apoio, ele pode se tornar uma pessoa melhor. Não adianta entregar o peixe se não der uma vara para pescar”, afirma. Outra grande meta de Orzílio, torcedor do Flamengo, é conhecer o Mané Garrincha. “Vou passear com meus filhos e depois com meus netos, mostrando o que ajudei a fazer”, conclui, sorrindo.

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