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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Histórias do Mané

Histórias do Mané

  Evelin Campos, ComCopa
Ele é o operário mais velho que já passou pela obra, mas mantém o desejo de enfrentar outros grandes desafios. Na série “Histórias do Mané” desta terça-feira (1º/10), José Espírito Santo Lima conta um pouco sobre sua trajetória no estádio brasiliense e na vida

Fotos: Andre Borges/ComCopa
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A carteira de identidade confirma a longa caminhada na vida, mas bastam alguns minutos de conversa com José Espírito Santo Lima para notar o jovem coração do maranhense. Aos 68 anos, ele viveu não apenas a experiência de trabalhar na construção do Estádio Mané Garrincha, mas também a de ser contemplado com o título de “operário mais velho da obra”.

Para muitos isso seria motivo de constrangimento, mas, para José, é mais uma prova de sua maturidade. Na arena, onde trabalhou como encarregado de armação de setembro de 2011 a abril de 2012, ele garante: o respeito sempre prevaleceu. “Fiz muitas amizades. Aprendi e ensinei muita coisa aos que trabalhavam comigo. Agora espero que eles coloquem em prática, né”, brinca.

No setor da construção civil desde 1976, José está acostumado a pegar no pesado. Já morou no Rio de Janeiro e em São Paulo, sempre em busca de novos desafios profissionais. Em Brasília, trabalhou na reforma do aeroporto, entre 1992 e 1996, e na construção de várias estações do Metrô. “Essa é minha área, é o que sei fazer. Mas foi a primeira vez num estádio”, destaca.

senador 2A experiência valeu a pena, segundo José. O que mais exigiu da habilidade do vascaíno foi a construção das arquibancadas. “A fôrma, o declive, a concretagem. Tudo foi muito desafiador”, afirma. Já o momento mais emocionante foi vivido na construção da cobertura do estádio. “Ih, você vê Brasília todinha! Dá um friozinho bom na barriga”, relembra o maranhense.

Pé na estrada – Perfeccionista e pontual. Assim era José Espírito Santo, chamado pelos colegas de “senador” devido à semelhança com o político Epitácio Cafeteira. Às 4h da manhã, quando as ruas ainda estavam silenciosas, o maranhense já estava de pé. “Sempre gostei de chegar na hora”, diz o operário, que mora no Entorno do DF, em Valparaíso de Goiás.

Para ele, Brasília precisava de um estádio como o Mané Garrincha. “O futebol daqui não é muito forte, mas a cidade merecia uma estrutura como essa para os eventos”, afirma José, que tem dificuldade em escolher seu lugar favorito na arena. “Admiro o estádio todinho! Trabalhei em todas as etapas e gosto de cada parte dele da mesma forma”, garante.

Atualmente, José está montando uma loja para alugar no terreno de sua casa. Mas o operário não pretende ficar muito tempo afastado da construção civil. Mesmo gostando de Brasília, ele estuda oportunidades fora da cidade. “Meus filhos já estão todos criados. Como bom nordestino que sou não teria problema em arrumar minha trouxa, colocar na cabeça e seguir outro rumo. Se tiver um canto onde possa ter minha sobrevivência, então lá será o meu lugar”, afirma.

senador 3Sempre na memória – José Espírito Santo veio para a capital do país sozinho, em 1992. Anos mais tarde, após conquistar estabilidade, o maranhense de Codó trouxe a família. Casado há 50 anos com a dona de casa Delzulita Lima, 68 anos, José sente orgulho de tudo o que construiu ao lado da esposa e não consegue imaginar como seria sua vida sem ela.

O resultado das bodas de ouro com a também maranhense foi uma grande família de 10 filhos, 18 netos e dois bisnetos. “Fim de semana lá em casa é só festa. Colocamos água no feijão e tá tudo certo”, conta, sorrindo. Além do nome e da história que deixará aos herdeiros, José acredita que vai eternizar no estádio a sua imagem.

“Sinto orgulho em saber que participei dessa obra. Colocaram meu nome lá e eu fico feliz. Tenho uma neta que sempre diz aos amigos que o avô trabalhou no estádio. No futuro, meus bisnetos também virão aqui e com certeza esse grandalhão vai ficar na memória deles, assim como está na minha agora”, conclui.

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