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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mané Garrincha

Histórias do Mané

  ComCopa
Dona da força típica do povo brasileiro, a catadora de lixo Maria Conceição Nascimento compartilha, na edição desta terça-feira (22/10) da série “Histórias do Mané”, a alegria de ter trabalhado no estádio e os sonhos para o futuro

Fotos: Andre Borges/ComCopa
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As mãos calejadas são a prova de uma vida inteira de trabalho duro. O sorriso largo e o olhar alegre, no entanto, revelam a humildade e a determinação de quem jamais pensou em desistir. Aos 47 anos, Maria Conceição Nascimento integrou o grupo de catadores responsável pelo recolhimento de toneladas de lixo na inauguração do Estádio Mané Garrincha, em maio deste ano.

Mãe de cinco filhos, Ceiça, como é conhecida por todos, veio do Pará em 1998 em busca de oportunidades. Aqui, trabalhou como empregada doméstica durante um ano, quando uma amiga a chamou para ser catadora de material reciclável, na Cidade Estrutural, região onde mora até hoje. “Quando cheguei nem imaginava que podia sobreviver com reciclagem. Para mim, lixo era lixo”, conta.

Atualmente, Conceição coordena a cooperativa Construir, que reúne 330 associados. Em um polo de artesanato e confecção, ela trabalha especialmente com a transformação de banners usados em bolsas e sapateiras, vendidas por R$ 15 e R$ 45, respectivamente. No estádio, em apenas um dia, foram recolhidas 40 unidades desse tipo de material, suficientes para produzir 50 bolsas e cinco sapateiras.

Além de gerar renda, a ação promoveu a conscientização de alunos de escolas públicas, que trabalharam ao lado dos catadores. “Temos o dever de mostrar às pessoas que aquele material pode ser reaproveitado e ajuda muitas famílias. No estádio, combatemos a discriminação e mostramos que nosso trabalho é fundamental para a sociedade e para o meio ambiente. Isso deveria ser exemplo para todos os locais que fazem eventos”, destaca Conceição.

171013AB  3424 historias do mane 1Sonhos – Atraída pela possibilidade de ficar mais perto dos filhos, que passavam a semana sob os cuidados da dona de uma creche, a paraense deixou o emprego de doméstica no Lago Sul e aceitou o desafio de retirar do lixo materiais que poderiam ser reaproveitados. “Também ganhava mais. Em apenas 15 dias, ganhava mais do que em casa de família em um mês”, acrescenta Conceição, que ajuda no sustento dos cinco netos.

Conceição, atualmente, trabalha em um galpão com cerca de 3 mil pessoas, mas o seu sonho é ver construído os 12 centros de triagem, antes da Copa do Mundo de 2014, para abrigar os catadores. “Quero trabalhar e ver meus amigos trabalhando em um lugar digno, com qualidade de vida e sendo valorizados. Esse é meu maior sonho”, revela.

Outro mundo – Com olhar curioso, Conceição observou com atenção e uma expressão iluminada de surpresa o gigante diante dela. “Nossa... Nossa... Nossa!”. Eram as únicas palavras que a catadora conseguia pronunciar. “É muito bonito. Todos os monumentos de Brasília são lindos, mas esse ficou demais”, disse, por fim, do topo da arquibancada do Mané Garrincha.

Na partida inaugural do novo estádio, entre Brasília x Brasiliense, em 18 de maio, Conceição trabalhou nos arredores e ainda não tinha visto o interior da arena onde astros do futebol e músicos famosos se apresentaram nos meses seguintes. Em meio a tantas formas e cores, a cobertura chamou a atenção da paraense. “Parece que o céu está mais perto. Sinto como se estivesse em outro mundo”, ressaltou, sorrindo.

Sentada em um dos 71 mil lugares, Conceição se imaginou em um clássico do futebol carioca, entre seu time do coração, Fluminense, e o Flamengo. Já do lado de fora, após responder às várias perguntas e posar para fotos, ela deu uma última olhada para o estádio que carrega o nome de um grande craque. Nos despedimos, felizes pela conversa. Ela, como se fosse a maior beneficiada pelo encontro, agradeceu.

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